Baú de Minas

    Recém chegados da Abertura da temporada de Escalada (ATEES 2024), durante o treino do dia 23/04/2024 Chefinho levantou a ideia de ir para Minas para escalar na Gruta do Baú no feriado de Corpus Christi.  
    Ideia na mesa, Iury (Chefinho) convidou Luca (Estagiário), Ronan (Maquininha), Wesley (Perna/Coach) e eu (Dudinha), mas como o Coach desistiu, Manuel (Princeso) imediatamente passou a mão na vaga dele, e logo começamos a organizar a viagem. 
    Tudo esquematizado, um comentário aqui e outro ali no dia do aniversário do Colaboulder, Julinha que estava de visita se inseriu no rolê e entrou no esquema.  
    Tropa fechada com 05 colabouders e a Julia kkkkk 
    Chefinho conseguiu reservar um quarto pra galera no abrigo Rupestre da Lapa, no distrito de Fidalgo em Pedro Leopoldo/MG, bem próximo ao pico da Gruta do Baú, que fica dentro do Parque Estadual do Sumidouro. O projeto estava definido. Fazer volume. Tudo certo pra dar certo, era só esperar a hora de partir.  
 
Dia 01 – 30/05/2024 

    Ansiedade a mil, chegou o grande dia.
  Saída programada para às 02h da manhã. Saímos (Eu, o Máquina, Luca, Chefinho e Princeso) de Colatina às 02h08 do dia 30/05, porque lógico, Luca “o atrasado” não estava no ponto no horário.
    Viagem tranquila, alguns pulos nos quebra-molas que o copiloto (Luca) não avisava, uma rota meio esquisita traçada pelo Waze perto de BH, chegamos em Pedro Leopoldo/MG às 09h25 e Julia já nos aguardava na rodoviária, porque havia saída de Vitória para BH no dia anterior. 
    Depois de cortar praticamente a cidade inteira e quase chegar em Fidalgo, porque o Luca colocou o trajeto errado no GPS, voltamos para buscar a Julia e partimos novamente em direção ao Distrito. 
    Chegada oficial às 10h15, partimos direto para o Parque. 



    O local funciona de 08h às 17h, há uma cobrança para entrada, e é bem estruturado,  tem estacionamento, banheiro e até restaurante.
    Iniciamos a escalada no Setor “Vale do Joga”. O Princeso abriu os trabalhos, entrou guiando a “Barbie face última” (5º), teve uma queda mas terminou o serviço. Entrei na “Jogue que eu pego” (6º) guiando, tentativa fail por causa de uma costurada errada na penúltima costura. Chefinho guiou a “Jogue que eu pego”. Luca guiou a “Barbie face última”. E o Máquina mandou as duas vias de top-rope pra aquecer. Julinha deu uma entrada na “Barbie face última”.



    Sem grandes feitos, partimos para o segundo setor do dia, o Mister Bean. Momento dos batizados. 
    O Máquina equipou a “besteirinha” (4º) e fez sua primeira cadena. Julia também fez sua primeira guiada nela. E Manuel mandou sua primeira cadena na “primogênito” (5º). Batizados concluídos. A molecada começou a sentir o que era escalar no calcário. Minha primeira guiada do rolê foi a “primogênito”, mas meu batizado já tinha acontecido no Parque de Diversões em Barra do Triunfo (João Neiva/ES). 






    O quarteto iniciante (Eu, Ronan, Manuel e Julia) guiou as duas vias com sucesso, mas ainda tinham várias coisas pra ajustar, a atenção, os movimentos, saques, costuradas e principalmente a calma.  
Iury e Luca guiaram a “tá de corpo mole” (6º) e Maquininha fez a via de top rope. 
    Maquininha lançou a pérola “abdominável” e virou o “abdominável homem das pedras”. 
Partimos pro abrigo mais cedo pra descansar da viagem. Fomos recepcionados pelo Helon e pela Denise, donos do local, que foram simplesmente maravilhosos com a gente, muito acolhedores e atenciosos. 
    Noite de bisca, risos, macarrão na chapa para os onívoros e de lentilha com torrada para os veganos, no caso, só eu. Depois de muita zoação no quarto, hora de tentar dormir.  
 
Dia 02 – 31/05/2024 

    Chefinho levanta e as crias já se movimentam pro café. No segundo dia de escalada tivemos a honra de ser guiados pelos anfitriões da casa, Helon e Denise nos levaram para outro lado do Parque Estadual do Sumidouro, fomos para o Gruta da Lapinha, no Município de Lagoa Santa/MG. 




    A entrada do local também tem uma ótima estrutura para receber os visitantes, há cobrança para entrada e exigência do uso de capacete e calçado fechado, tem museu com informações sobre os desenhos rupestres, as cavernas da região, tem lojinhas de lembranças, um castelo (Princeso se sentiu em casa) e outros atrativos.  



    Iniciamos a escalada no “setor dos bigodes”. Lá chegaram alguns escaladores já conhecidos do Helon e da Denise, o Claudionor, o Capeta e o Elton. 
    Maquininha equipou a via “só pra elas” (5º). Eu, Manuel, Julia e Iury também guiamos ela.  
    Eu escalei a “bigode limpo” (6º) de top-rope, na seg da Denise, que foi muito paciente e passou dicas valiosas não apenas pra fazer a via, mas para levar sempre pra escalada. Julia e Máquina também escalaram de top, e Iury entrou guiando. 
    Luca e Iury guiaram a “só pra eles” (6º) e Maquininha entrou de Top-rope. Como o Máquina ainda tinha energia sobrando, o menino entrou de top na via “Prestobarba”. 



    Luca cadenou a “bigode de Cristo” (6º sup) e Manuel deu uma entrada na via só pra entrar num buraco e tirar foto para um trabalho da faculdade que inventou naquele momento kkkk.  


    Por último fomos para o setor onde o Luca cadenou a “PVC” (7º a). Claudionor equipou a via e Helon fez a seg. 

 

    Voltamos para o abrigo e o cassino estava aberto. Como a galera não perdoa nada, Julia ganhou o nome de “Ana Julia Se pode” de tanto perguntar pode isso? pode aquilo? será que pode? Eis as consequências de um secador e uma energia 220w kkkk   
    A noite foi de pizza, feitas pelo próprio Helon e foram muito elogiadas pelos meninos. Massa caseira, orégano e manjericão da horta, muito recheio e um toque de manga foram os segredos para manter 5 bocas falantes em silêncio por alguns minutos. 




    Bom, pizza para os onívoros e segundo dia de lentilha com torrada para os veganos. Todos alimentados, o frio mandou todo mundo pro quarto e o Chefinho até dançou um samba. 
 
Dia 03 – 01/06/2024 

    De volta à Gruta do Baú, praticamente abrimos o Parque e fomos direto para o setor “Geriatria”(Chefinho estava à vontade rsrsrs).


    Os iniciantes guiaram as Vias “Papa Nicolau” (5º) e “Rupestre” (5º). Muito put* com a minha cadena inválida por ter pisado sem ver numa chapeleta, fomos para o Setor anexo ao “Mr Bean”, porque a Geriatria estava cheia (de jovens e o Iury). 
    No anexo, todos cadenaram a “lobo solitário” (6º), quase que o Manuel não, entrou na via sem costuras, perdeu o flash, mas deu tudo certo. 
    O Luca mandou a “currículo atualizado” (7º a). O Máquina despretenciosamente decidiu entrar na via e cadenou seu primeiro 7º a. Todos orgulhosos desse feito, ninguém mais segurava o menino.



    Depois o quarteto mandou a “por debaixo dos panos” (4º) e Luca entrou pra desequipar a via. 
Ronan queria fazer a “Dente de Tubarão” (6º), e é claro que o menino mandou. Eu, Manuel e Julia também entramos na via, mas quedamos no crux, derrubados por um movimento dinâmico, chegamos no topo mas a cadena ficou de projeto pra próxima. Claro que o Chefe e o estagiário Luca mandaram a via.  
    Fim de tarde, Luca, Chefinho e Maquininha mandaram a “titanic” (7º a). Saímos do setor quase na hora de fechar.  
    Todo mundo satisfeito, o lanche da noite foi a Pizza que sobrou da noite anterior para os onívoros e o terceiro dia de lentilha com torrada para os veganos, por sorte ainda rolou um açaí na cidade, no Ê Lasqueira.  
    Cansaço batendo, frio apertando, partimos pro abrigo. Rolou um papo cabeça, umas músicas aleatórias, Luca, Princeso e Chefinho dançaram um reggae meio samba, meio forró e foram dormir. 
 
Dia 04 – 02/06/2024 

    Último dia de aventura. 
    Levantamos cedo e deixamos tudo preparado para ir embora após a escalada. 
    Café na goma, partimos para o Baú, dessa vez no Setor “fechadura”. 


    Entramos na via “Maggie” (5º) e na “Chuva Orgânica” (4º). Deu cadena pra todo mundo.  

    Pra fechar o rolê, passamos no setor “escola” para o Chefinho e o Luca repassarem procedimentos para os iniciantes. 


    O quarteto mandou a “a vida é um desafio” (4º), Manuel desequipou ela pela primeira vez e voltamos pro abrigo pra deixar a Ana Julia Sepode, já que ela iria mais tarde pra BH pra pegar o busu pra Vix. 
   Despedidas concluídas, voltamos pra casa às13hr e contrariando as estatísticas chegamos em Colatina às 21h não apenas com as mochilas, mas com a bagagem cheia de aprendizado.  
     ...
    Já em casa lembrei dos livros que escolhi pra levar e nem tirei da bolsa, “A brevidade da vida¹” (Sêneca) e “Eu e outras poesias²” (Augusto dos Anjos). Acho que eles resumem bem a viagem, em especial o que falam sobre o tempo: 
    Sábios são aqueles que “ocupam-se, com empenho, daquilo que os faz viver da melhor forma¹”. É importante gastar tempo com aquilo que se gosta de fazer. E nós gostamos de escalar! 
    “Almas feitas somente de granito²” agora são formadas também pelo calcário.  
   “Cada rocha é uma eterna sepultura²”, carregam nossas tentativas falidas. Com o desafio de guiar “aumentam-se então os grandes medos, vêm-me à imaginação sonhos dementes. Choro e quero beber a água do choro”². “Depende de nossa vontade renascer para nós mesmos¹”. 
    Sêneca ressalta que temos a obrigação de reservar espaço de tempo para si próprio, porque a fugacidade do tempo está fora de nosso controle.  
    “O tempo é o único bem para o qual se exige avareza¹”. Não podemos perder tempo. 
    Em toda a viagem, mas principalmente no último dia, Luca e Iury, repassaram para os outros frações de seu tempo (Chefinho sempre faz isso né). Tuas virtudes, empatia e amizade, revelaram-se bastante fortes em meio a tantas possibilidades para eles que estão mais à frente no esporte. 
    Do mesmo modo, Denise, Helon e Claudionor, reservaram de bom grado um dia inteiro para passar com a gente na Gruta da Lapinha. Nos concederam frações de seu tempo precioso. Não poderiam ter nos dado presente melhor que a honraria de suas presenças.  
    Com isso, trago as lições de Barroso: “Ninguém é bom demais, ninguém é bom sozinho e é preciso agradecer”. Eu agradeço aos amigos que a escalada me deu, que riem junto, que sofrem junto, que fazem bom uso do seu tempo, que pensam em si, mas também pensam nos outros. Tenho amigos como os de Fernando Pessoa: 

    “Meus amigos são todos assim: metade loucura, outra metade santidade. Escolho-os não pela pele, mas pela pupila, que tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. Escolho meus amigos pela cara lavada e pela alma exposta. Não quero só o ombro ou o colo, quero também sua maior alegria. Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. Não quero amigos adultos, nem chatos. Quero-os metade infância e outra metade velhice. Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto, e velhos, para que nunca tenham pressa. Tenho amigos para saber quem eu sou, pois vendo-os loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que a normalidade é uma ilusão imbecil e estéril”.
    
    Finalizo dizendo que a natureza agiu benignamente. Foram 4 dias lindos, com pessoas lindas, sem nenhuma intercorrência. Quero repetir: a natureza agiu benignamente, mas tão benignamente que me fez esquecer os dedos que havia lesionado semanas antes, “Há certas doenças que se curam quando ignoradas pelos enfermos¹”. As pedras curam. Pessoalmente, digo que fui uma abençoada, “os céus sabem!¹” 

Até a próxima, Minas Gerais. 


By Eduarda Rodrigues (Dudinha)


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