Serra do Cipó
Sonho realizado! Sem dúvida essa viagem vai ficar marcada na minha memória. Desde que comecei a escalar, sempre ouvia falar do Cipó e, vindo morar em Colatina, comentei com Iury sobre a vontade que tinha de conhecer o local. Logo ele respondeu: vamos marcar de ir lá! A simples ideia foi ganhando forma e marcamos uma data. Com a empolgação a mil, fui logo comprando um Fingerboard e uma sapatilha nova. Mas foi preciso adiar duas vezes por conta das condições do clima. Enfim, conseguimos uma nova data e, nem pensamos nas aulas de genética do menino Luca - ele que lute depois.
A tripulação foi formada por Iury (Chefinho), Eu (Matheus), Luca (Singular), Reinan (BomBom ou Taz-Mania) e Aguinoel (irmão de Reinan). Saímos de Colatina por volta de 15:30 do dia 03/03/2023 e chegamos no Sítio do Marcelinho por volta de meia noite.
Dia 1 – Serra do Cipó (Setores: Melzinho; Sala da Justiça; Bárbaros; Vale Zem)
Logo cedo já acordamos com um bom dia no estilo bem militar do nosso chefinho (Iury). Às 5:00 da manhã ele já estava de pé e não se conteve de ansiedade acordando todo mundo 30 minutos depois. Partimos para tomar aquele café da manha na padaria local que merece um destaque nesse relato: bom e barato.
Fomos para a pedra e a trilha de 20 minutos não durou nem 15. Estávamos todos ansiosos para conhecer o famoso mármore do cipó. Apertamos o passo e logo chegamos no setor Melzinho. Que energia, que lugar incrível! Sem dúvida esse foi meu pensamento ao ter o primeiro contato com aquela rocha. Iury propôs que eu guiasse a primeira via do dia (Melzinho na chupeta – 5b), nem esperei ninguém se manifestar contrário e já estava pronto para entrar.
Uma via que segue por uma canaleta de pés bem lisos e pouco aderentes, bem diferente do granito que estava acostumado. Mas quem precisa de pé bom com aquelas agarras tão anatômicas que chegam parecer macias? A maior dificuldade mesmo fica na leitura da via entre todas aquelas marcas de magnésio e boas agarras. Independente da graduação, começar com cadena é sempre bom. Ainda no mesmo setor, entramos na via Mr. X, um 6b.
Na sequência fomos para a tão famosa sala da justiça. Que lugar imponente! Ao chegar lá nos deparamos com várias vias já equipadas e alguns escaladores locais trabalhando em projetos bem fortes (Escalador: Magro – Via: O bode ainda bufa, 10a). Entramos na clássica via Injustiça Social, 7a. Mais cadenas e um incrível registro pelo drone do nosso Taz-Mania, também conhecido como Bombom ou Reinan Nordestino.
O terceiro setor do dia foi o Bárbaros e entramos na via Diversão garantida um 6b. Após aquela boa adrenada, Reinan cria mais um novo bordão para sua coleção de pérolas: “vou costurar essa porr@!” Na real, não sei se foi isso mesmo que ele disse, mas foi a tradução livre que fizemos da fala do nosso Taz-Mania.
Pra fechar o dia fomos para o Vale Zem onde nosso chefinho queria pagar uma pendência de sua última visita (Via Tesouro escondido, 6b). Dessa vez a via não deu nem graça: ele passou o trator. Além disso, a via me proporcionou uma bela foto. Pena que Iury não pode dizer o mesmo, neh? Luca ficou devendo no registro, mas não na escalada. O garoto tá muito forte e fechou o dia com cadena na Via O que não mata engorda, 7b. Confesso que ficou um gostinho amargo de não ter conseguido a cadena dela, mas é sempre bom ter um projeto (ou desculpa) para voltar ao Cipó. Assim, finalizamos o dia: Reinan destruído aproveitou o Vale Zem para dormir e Agnoel, seu irmão, teve o privilégio de ter sua primeira experiência com a escalda nesse paraíso.
Dia 2 - Gruta do Baú
- 5:30, Iury: “Bom dia! Bora levantar cambada!”
E lá vamos nós para mais um dia de escalada no paraíso, mas dessa vez Iury propôs que fossemos conhecer a Lapinha do Antão, um local próximo a 50 min de carro. Assim, após um belo café da manha do chef Luca, partimos para lá e, infelizmente, nos deparamos com uma placa na entrada dizendo que o local estava interditado para escalda. Felizmente um trabalhador local nos lembrou que logo ali perto havia a Gruta do Baú e nem pensamos duas vezes.
Entramos no parque cuja a entrada foi 15 reais e estava muito bem conservado, limpo e organizado (“Tá perguntando por quê? Tem placa!”). Fomos muito bem recebidos por escaladores locais que nos sugeriram a Via Tamburello 6a. Via incrível e de resistência que segue por um paredão de 20/25 metros, com agarras boas e grandes. O crux, um negativo antes da parada dupla, bombou legal meu antebraço.
Na sequência fomos conhecer o cartão postal do local: a chave do baú. Entramos nas vias Maggie 5a e Chuva Orgânica 4sup. Mais uma vez aquele registro de tirar o folego do nosso amigo Reinan e a primeira ascensão completa de Agnoel em top rope.
Fechamos o dia no setor novo do local, Mister Bean (“segue a trilha, tem placa”). Entramos nas vias Fenda, 7a; A linda, 4; Dama, 4; Golpe de mestre, 6c; Primogênito, 5a; e Luca ainda teve fôlego para entrar na Boca mordia, 7a. Muito legal ver a quantidade de escaladores naquele local, muitas famílias fazendo trilha e crianças tendo contato com esportes na natureza. Assim fechamos mais um dia de climb dos sonhos, muitas cadenas e um pôr-do-sol maravilhoso na volta.
Para fechar com chave de ouro, terminamos a noite com uma G3 (cerveja local) e algumas histórias do Marcelinho sobre o seu inicio na escalada e seu atual projeto Ganbatte.
Dia 3 – Serra do Cipó (Setores: Anfiteatro e Ninhos)
Como de costume, o terceiro dia de viagem se inicia logo cedo. O corpo ainda não responde direito e a força já não é mais a mesma. Tomamos aquele café esperto na padaria e seguimos para a pedra. A empolgação da trilha já não foi igual à do primeiro dia: foram poucas palavras e passos mais lentos. Mas, o Cipó é incrível! Logo o contato com a natureza vai renovando as energias, principalmente ao chegar no Setor Anfiteatro e se deparar com a via Árvore da vida, 6c. Um espetáculo da natureza, algo mágico que trouxe reflexões profundas de existencialismo para serem debatidas pelo grupo.
Comecei o dia guiando a via que começa em uma chorreira, depois segue por uma arresta com um leve negativo e termina aos pés da árvore que incrivelmente sobrevive no topo da via. A escalada acontece ao lado das raízes dessa árvore, que descem por toda via em busca de nutrientes no solo. Indescritível esse cenário. Infelizmente, minha escalada à vista foi interrompida por algumas abelhas que resolveram me visitar durante a subida. Mas essa via valeu a repetição: teve cadena para todos.
Por sugestão do Marcelinho, nosso anfitrião, entramos na via Jhony Quest, 7a. Uma via muito legal que trouxe aquela adrenalina, por ter grampos mais espaçados do que as vias mais recentes do cipó. Um crux bem técnico que só foi desvendado pela máquina Luca.
Após um belo piquenique, partimos para o setor Ninhos. Mesmo sob um forte sol, não poderíamos desistir de entrar naquela via. Mais uma vez a combinação de árvore, raízes e pedra proporciona uma escalada incrível na via Ninhos, 6c.
Iury começou guiando a via que, apesar de ter ótimas agarras, é bem negativa, deixando as costuras penduradas. Para poder mandar a via, foi preciso um descanso entre dois lances de boulders que formam o crux. Acho que o sol só queria brincar com a nossa cara. Após eu, Luca e Iuri terminarmos a via, uma leve chuva veio querendo atrapalhar nosso último dia.
Mas, logo ela foi embora e, Reinan, Iury e Luca rapidamente se animaram pra entrar na Via Dagem, 6c. Em si, a via não pareceu ser grande coisa, mas rendeu aquela resenha, apesar de Agnoel não ter animado cair na Via Dagem. Ainda sobrou um pouco de energia para entrarmos na Via Uai Mãe, 6c. Com uma saída mais técnica e o final com algumas entaladas, foi assim que encontrei com Iury no topo da Via Dagem (gerou uma bela foto).
Pela terceira noite seguida, após um dia inteiro de climb, fomos comer aquela comida mineira no restaurante Tapiadas. Fechamos a trip assistindo aquele treino de respeito do anfitrião Marcelinho, seguido de noite de autógrafos.





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